quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Novamente à conversa "comigo mesma": o que é isso da igualdade de oportunidades?

Falo comigo muitas vezes, a verdade é esta.
Há algum tempo que questiono o que é isso da igualdade de oportunidades/de direitos. Isso existe? Ou será apenas um trio de palavras arrumadas estrategicamente para agradar a maioria.
É claro que todos os seres humanos deveriam ter as suas necessidades mais básicas satisfeitas e deveriam viver com dignidade. Estou a falar de coisas que vão para além dessas necessidades básicas, até porque a definição de "viver com dignidade" já pode conter alguma subjetividade. No caso da educação estou sempre a questionar o que é e em que consiste a igualdade de oportunidades, já escrevi sobre isso aqui.

Alguns direitos que considero essenciais (não estão enunciados por ordem de importância):

Todos têm o direito de ter filhos. 
Claro que sim. Mas a verdade é que uns conseguem, outros não. Umas engravidam só de pensar (isto é uma metáfora, não acreditem nisto), outras sujeitam-se a inúmeras frustrações consecutivas que se traduzem, muitos vezes, num sem número de tratamentos. Uns podem, outros não. Uns conseguem ter um filho, outros conseguem ter quatro filhos. Uns querem ter, outros não querem.

Todos têm o direito de sentir segurança e amor.
Basta lembrar alguma família menos funcional em que a segurança e demonstração de amor são conceitos abstractos ou inexistentes. Nestas situações, por vezes, até pode aparecer alguém a querer ajudar, a querer colmatar falhas, mas nem sempre estas tentativas são bem sucedidas: há pessoas que aceitam; outras não sabem aceitar; outras não querem aceitar. Como se faz para que todos tenham a oportunidade de sentir isto? Todos precisam disto na mesma quantidade?

Todos têm o direito a ter uma casa.
Sabemos muito bem que nem todos têm. E há quem diga que muitos não querem ter.

Todos têm o direito à Educação.
Claro que sim. Mas todos têm direito à educação que querem? E, já agora, todos querem?

Todas as crianças têm o direito de frequentar uma Escola Pública de qualidade a partir dos 3 anos.
Claro que sim. Mas a verdade é que uns querem, outros não. Nem todos os que têm 3 anos conseguem frequentar o ensino público. E os que frequentam, nem todos estão na sua primeira opção, aquela que é mais benéfica para si. E o que é isso de uma escola Pública de qualidade? E os que precisavam de uma Escola Pública antes dos 3 anos? Possivelmente têm de fazer uma triagem logo no primeiro ponto relativamente ao número de filhos.
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Todos têm o direito de usufruir de um Plano de Vacinação, independentemente das suas possibilidades financeiras. 
Claro que sim. Mas a verdade é que uns querem, outros não. Uns querem administrar todas as vacinas à sua descendência, outros, com algum dinheiro extra, conseguem administrar as que se encontram fora do Plano Nacional de Vacinação. 

Todos têm direito a um Plano/Seguro de Saúde.
Claro que sim. Mas algumas crianças são acompanhadas por pediatras, outras por médicos de Clínica Geral no Centro de Saúde (não retirando o mérito aos médicos do Centro de Saúde, mas neste momento não há Pediatra no Centro de Saúde da minha área de residência, por exemplo - não me digam que o médico de Clínica Geral faz o papel do pediatra: então porque é que existe a especialidade?.

Todos têm direito a uma alimentação saudável.
Claro que sim. Mas sei bem a diferença de valores entre os produtos biológicos e os "não biológicos", por exemplo.

Todos deviam ter direito a muita coisa. Isto da igualdade de oportunidades, apesar da boa intenção, dá muito que falar: escrevi sobre coisas que considero essenciais (segurança, amor, saúde, alimentação, educação...), mas até nestes pontos não estamos todos de acordo. A verdade é que não queremos todos as mesmas oportunidades. A verdade é que é muito, muito difícil que todos tenham acesso às mesmas oportunidades, por vários motivos. Como é que fazemos?

Eu queria ter 2 ou 3 filhos e ter disponibilidade financeira e mental para os acompanhar. Queria ter tempo para eles. Queria trabalhar no que gosto, sair cedo e ganhar para os gastos. Queria viver feliz, sem discussões domésticas mesquinhas e sem importância que me consomem. Queria poder comprar tudo na mercearia biológica da minha terra. Queria poder administrar todas as vacinas que, apesar de todos os pontos de vista discutidos, me sossegam a alma; pelo menos fico mais sossegada com elas administradas do que sem elas. Queria ficar com o miúdo a tempo inteiro até aos dois anos (isto já lá vai, ele vai fazer 4), parcialmente até aos 4 e não estar mais do que 6/7 horas diárias longe dele. Mas também queria ter 1 hora diária para fazer o que me apetece, de modo a garantir o alinhamento dos chácaras (seja lá o que isso for, acho que um bom alinhamento faz sempre bem). Queria tirar o mestrado na área da Educação. Queria escolher a educadora e a escola do meu filho. Queria ter um papel ativo na educação do meu filho. Queria ter uma auto-caravana e substituir alguns dias de escola do miúdo por viagens nesta casa ambulante sonhada. Queria ter uma saúde de ferro e poder dispensar as visitas aos médicos (dispensava as minhas e as dos meus). Queria viajar fora de Portugal de quando em vez e viajar muitas vezes cá dentro. Queria uma casa simples e arrumada com um espaço exterior. Queria um carro económico (não sendo muito, muito económico, até ficava com o que temos). Ou então vestia a vontade do meu filho que gostava mesmo era de viver "nas férias"... Talvez seja só porque precise muito de férias, mas desconfio que me habituava facilmente a este cenário hipotético.
Para dizer a verdade, eu queria que investissem em práticas e políticas que nos fizessem viver bem e felizes, sendo que este "viver bem e feliz" fosse feito à medida de cada um: sim, eu queria ganhar menos, consequentemente trabalhar menos (apesar de ganhar pouco), ter mais tempo para o que me faz bem à alma, ter menos bens materiais (talvez tivesse de desistir da auto-caravana; desistia antes de viajar fora de Portugal), abdicar de coisas que (para mim) são secundárias. Quem quisesse trabalhar mais, ganhar mais, viajar mais, ter um carro melhor, uma casa maior, força. Os sonhos de uns não têm de empatar os sonhos dos outros. Nem os sonhos de uns são melhores dos que os dos outros. Cada um com os seus.
Estas são algumas das minhas vontades e representam o que valorizo. Cada um tem as suas vontades, as suas preferências, os seus sonhos. Teremos todos a oportunidade de os cumprir? Bem, pelo menos todos temos a oportunidade de tentar. Ou não... que isso de se dizer que querer é poder, não é bem assim. Apesar de o querer ser muito importante, nem nisto, a que chamamos oportunidade de tentar, há igualdade.

a fugir de um dia de escola (dito normal)... 
 Imagem retirada daqui

Alguém que me conhece bem diz que tenho de resolver os problemas que tive com a escola que frequentei e com a aluna que fui. Tem razão. Não anulando as minhas opiniões sobre o assunto "Educação", não devo assumir que o meu filho terá os mesmos problemas/as mesmas dificuldades. Esforçar-me-ei por não fazê-lo.  
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Esta divagação pode conter muita utopia, mas estamos em Agosto, não tarda muito estou a completar mais uma volta de vida, falta pouco para ir de férias... Apetece-me divagar.

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