sexta-feira, 28 de julho de 2017

À conversa com o meu filho #17 - Conversas esquecidas na pasta dos rascunhos

Encontrei este rascunho esquecido.

- Mãe, não te quero perder.
- Filho, não me vais perder...
- E ao pai?
- Também não, meu amor.
- Uma vez perdi o pai. (Teve um pesadelo em que perdia o pai, ainda não o esqueceu).

Há umas semanas perguntou ao pai se eu ia morrer. (Madeira, madeira, madeira). Depois, seguiu-se a seguinte conversa:
- Mãe não quero que morras. Vais morrer?
- Só daqui a muito tempo, quando for muito velhinha. e quando tu também fores muito velhinho.
- Daqui a umas semanas? - perguntou ele.
- Não filho, ainda falta muito tempo para ser velhinha.
- Não mãe, tu já foste velhinha. E eu também.
- Então isso significa que vamos voltar a ser meninos os dois, filho?
- Tu vais ser menina, mãe. (se tu o dizes, filho, eu acredito).
Arrependi-me desta conversa, pelo menos com este discurso. Ele não tem noção o que é daqui a muito tempo, nem o que é ser muito velhinha/o, nem quanto tempo vou demorar a ficar velhinha. Ele tem uma avó velhinha, mais velha do que as outras, mas não sabe quanto tempo é que ela levou para chegar ao estatuto de "muito velhinha".
No final tentei tranquilizá-lo, disse-lhe que estarei sempre por perto; que se não estiver, mesmo que seja por pouco tempo, as pessoas que gostam dele estarão disponíveis para para cuidar dele e para o ajudar; falámos das pessoas que gostam dele e que lhe são próximas. Acrescentei ainda que, mesmo estando por perto, se necessitar de ajuda, há gente disponível para me ajudar.
Dias depois voltou à carga: Mãe, não quero que vás para o céu como o teu pai... Mais um agradecimento à querida tia por falar de "realidade" com o miúdo.

Não quero morrer cedo, não quero morrer nova, acredito que a maioria das pessoas não quer. Quero viver bem, com saúde física e psicológica. Não quero viver vazia de recordações, não quero esquecer o que vivi, não quero deixar de me lembrar da pessoa que sou. Confesso que um dos meus medos é "desaparecer" cedo, antes de o ver crescido, formado no curso da vida que ele escolher, adulto realizado, velho, amigo, saudável, feliz. Há medos que ganham tamanho depois de sermos mães, este é um deles.

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