quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Pessoas que me inspiram #6 - O pai

O pai. Escrevo sobre um pai, mas não um pai qualquer. Escrevo sobre o pai que todos deviam ter.

Ele entra com ar sério, apressado e pouco frágil para obter informações acerca de tratamentos de Fisioterapia para o filho: depressão, perda de peso brusca, falta de força... Ninguém sabe o que o filho tem ao certo. Marcamos consulta. Ele não sabe se o filho virá à consulta. Olho-o nos olhos e afirmo que vou marcar a consulta, afirmo que ele virá, como se conhecesse o filho deste pai e tivesse certeza de que ele viria. Não conheço nem tenho a certeza, mas tenho uma grande vontade que ele venha àquela consulta - porque no fundo do olhar vivo e forte do pai vi fragilidade; os filhos são mesmo o nosso ponto mais forte e o nosso ponto mais fraco. Ele vem à consulta. A médica desconfia de uma doença que há uns anos seria mortal; hoje, mesmo não tendo cura, não o é. A ansiedade por realizar os exames. A vontade e a crença de que a médica esteja errada. O medo de ela estar certa. Uma força de toda a equipa na recuperação deste utente, mesmo sem saber o diagnóstico - o resultado demorou a sair. O pai que começou também a fazer Fisioterapia (às vezes penso que ele forçou uma lesão só para estar mais próximo do filho). A força no nosso sorriso e nas palavras tímidas que receamos ser intrusivas. A nossa fé. O estado de espírito do filho com altos e baixos. A firmeza do pai. O companheirismo do pai. A dura certeza do pai de que a suspeita da médica está certa. A crença do filho que não. O resultado positivo. O céu que lhes caiu em cima durante a travessia de uma ponte - estavam juntos quando receberam a notícia. Imagino o medo e a revolta (não, não imagino). O reencontro com eles depois do resultado, um abraço sincero e dois beijos de amizade (não de uma amizade de sempre, possivelmente nem para sempre, mas sincera; o bem querer é sincero desde o primeiro minuto). O pai com ideias que se atropelam, que procura alternativas, que morre de medo, mas que não desiste. O pai que entra dois minutos depois de sair com 3 escovas na mão só porque a Fisioterapeuta lhe disse que essa é uma boa ferramenta para treinar a sensibilidade em casa; ele queria a opinião dela. Um gesto tão simples que diz tanto: ajudar e apoiar sempre o filho, do aspeto mais básico ao mais complexo. O sorriso dele por se sentir importante na recuperação do filho. O orgulho no filho. Quase que vejo uma criança obstinada a lutar por algo que quer muito. Só que ele quer sempre e sempre mais. Nada nem ninguém o demove. Ele quer o melhor para o filho e luta por isso. Eu vejo-o claramente. Este é o pai que todos deviam ter!

Ouvimos falar muito de escuta ativa e de atenção plena para com os nosso filhos... não sei se devido à maternidade, constato que a minha atenção plena e escuta ativa melhoraram muito, não só para o meu filho, mas para o mundo em geral. E para as pessoas que realmente merecem e são exemplos a seguir. Gosto desta (minha) capacidade recente. 

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