quarta-feira, 21 de setembro de 2016

As palavras que nunca te direi e as questões que nunca esclarecerás.

11 de Setembro do ano de 2016, o dia em que se comemorava o teu aniversário. Um Domingo, tal como há 11 anos atrás. Passaram 11 anos desde a última vez que falei contigo, que te vi respirar, que te beijei, que conversámos (com pouco interesse da tua parte) sobre o Benfica, que te segurei na cabeça enquanto tentavas deitar cá para fora o que o estômago não aceitava. Saí de lá, como tantas outras vezes, a pensar que era uma fase, um ciclo. Iria passar. 2 anos antes, num daqueles telefonemas da praxe de aniversário, informaste-me que tinhas recebido o diagnóstico de cancro no duodeno. Mas que porra de sítio foi esse para teres um cancro!? Estava zangada contigo há três anos. Lembras-te? Quando te comuniquei que tinha saído de casa com a minha irmã senti que me tinhas abandonado (mais uma vez) à minha própria sorte (ou à falta dela). Corria o ano de 2000, o ano em que se previa o fim do mundo. Para mim, foi mesmo o fim do mundo, pelo menos do mundo que eu conhecia e fantasiava até ali. O ano de 2000 foi terrível. O de 2005 não lhe ficou atrás. 
No dia 12 de Setembro de 2005, iniciava-se uma nova semana e, para tantos, novas oportunidades. Para ti não. Para mim, enquanto tua filha, também não. Para nós, nunca mais haveriam oportunidades. Partiste na tua última viagem sem te despedires de mim. Sem nunca falarmos sobre a tua ausência na minha vida. Sem um pedido de desculpas. Apesar de ter sido a minha mãe a pedir o divórcio quando eu tinha 2 anos, tu conseguiste pedir-lhe desculpa antes de ires; alguma culpa deves ter sentido. A mim não. Pergunto-me muitas vezes sobre o motivo pelo qual não me pediste desculpa. A verdade é que eu pergunto-me muitas coisas, muitas vezes. Gostaste de mim? Foste completamente louco por mim? Eu gostava tanto de ter sido a menina do papá... nunca senti que o fosse.
Durante os dois anos que separa o diagnóstico e a tua partida estivemos juntos muitas vezes. Visitei-te muitas vezes, fomos ao cinema pela primeira vez. O filme "O amor acontece" foi o que assistimos. Passou num qualquer canal no dia 11 de Setembro de 2016, quase como por magia, talvez para me fazer reflectir sobre o seu título. Parece simples: o amor acontece. Ou não. Será que aconteceu connosco. Quando? Como? Destes dois anos, lembro-me de uma visita em particular: estavas nos cuidados intensivos, estavas com frio e eu cheguei de tão longe e para ficar contigo tão pouco tempo, mas com a missão de te aconchegar. Nesse dia, não sei se me ouviste, pedi-te para ficares bem. Pedi-te duas coisas: queria ir contigo ao Estádio da Luz e queria que, um dia, levasses um filho meu à escola (recordação esta que não guardo de nós). Não pudeste satisfazer nenhum destes pedidos. Não sei bem como nem porquê, mas a verdade é que foi precisamente no dia 12 de Setembro de 2016, 11 anos depois de partires, que acompanhei o meu filho à escola pela primeira vez. Ele a saltitar de obstáculo em obstáculo, agarrado às mãos que prometem agarrá-lo sempre que for necessário: agarrado às mãos do pai e da mãe. Viste? 

2 comentários:

  1. Nem todos encontramos o nosso lugar nesta viagem... Ele, claramente, não encontrou...

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    1. Talvez seja verdade. O que me entristece é que por isso haverá sempre um lugar vazio na minha viagem: o de filha do pai.:(

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