quinta-feira, 22 de setembro de 2016

As férias de Verão do teu 3º ano de vida: Ilha da Armona

Falar das férias de Agosto em Setembro... Já foi há tanto tempo!
Dia 12 de Agosto, último dia de trabalho. Dia 13, dia de limpezas e de malas. Dia 14, saída de casa à 6 da manhã rumo ao Algarve, em direção à Ilha, com a mala carregada de boas intenções e de ilusões. Havia hipótese de correr tudo bem. 
O primeiro dia foi terrível, muito cansativo. Com (in)adaptações a uma casa cheia de gente e ao calor que se fazia sentir. Para além dos três lá de casa, a minha sobrinha, a minha mãe, um "tio-avô" (emprestado e dono da casa) e, mais tarde, a tia. Muita confusão. Muitas opiniões. Muitas formas de estar para uma casa tão pequena e para um período de tempo tão curto. Algumas desilusões vieram na mala de regresso, isto de tocar em feridas da infância durante discussões dos dias de hoje magoa. Mas... E a palavra "mas" pode ser terrível, no entanto também pode dar ênfase às coisas boas. E destas férias, só guardo as coisas boas que, por acaso, até foram muitas.
Ilha sem carros. Carrinhos de mão que nos ajudam no transporte das malas. Minutos de distância até à praia. Ir e vir sem a pressão das horas, só a dos apetites. Levantar da cama e sair para a rua. Ir ao pão pela manhã. Refeições na mesa do quintal; na Ilha é assim, acho que a maioria das pessoas come no quintal. Peixe que o pai foi buscar ao mar. Conquilhas e ameijoas apanhadas pelo pai. Grelhados à mesa na maioria das refeições. Banhos no chuveiro que está no quintal. Sempre. Cafés matinais sem pressa. Crianças a pintar a mesa de ardósia ou em cima da mota que ganha vida com uma moeda de cinquenta cêntimos. Água quente (não me lembro de apanhar água tão quente no Algarve). Descontração. Amigos de Verão. Cumprimentar pessoas desconhecidas que passam por nós nas passadeiras; até parecia que estava na colónia de férias da Praia das Maças, em Sintra (há tantos anos). Bolas de Berlim. Conversas descontraídas e espontâneas. Sestas demoradas. Quedas: perdi a conta ao número de vezes que o Índio Pirata caiu, trouxe um olho negro e "partiu" a cabeça, uma coisa superficial que nos pregou um susto. Descoberta de sítios secretos. Ir para a praia de manhã e voltar lá à tarde, às 17h, às 18h ou às 19h, tanto faz, vamos à praia à hora que nos apetece. Mergulhos. Construções na areia. Bolos e castelos. Barcos na areia, barcos no mar e histórias inventadas. Cabelos selvagens e pele com sabor a sal. Passeio de barco até à Ilha deserta, almoço à beira mar, café na ilha da Culatra, mergulhos numa água transparente, pés que correm na areia macia, risos e gargalhadas; este dia foi tão bom; foi neste dia que me despedi dos 39 anos. Almoço no dia seguinte num dos restaurantes da "nossa" Ilha da Armona, com vista para o oceano, onde cumprimentei os 40. Sorri-lhes sem medo. Não me pesam. Foi um dia feliz. Música ao vivo. Músicas conhecidas e em Português cantadas a uma só voz. Sangria. Brindes. Liberdade. Nascer do sol. Pôr do sol. Todos os dias a hipótese de testemunhar estas imagens.
A despedida: molhar os pés antes da derradeira viagem de barco, nostalgia no olhar, café na esplanada junto aos barcos, último passeio na mota, o adeus, a vontade de regressar, a saudade mesmo antes de partir. Eu e o Pirata fomos os últimos a sair da Ilha: a tia e a prima saíram no dia antes; o pai, a avó e o tio saíram da Ilha no barco do tio carregado de malas; nós apanhámos o barco que faz a travessia da Ilha até Olhão. No primeiro andar do barco, com ele ao meu colo, observamos o rasto que deixamos no mar e a ilha a minguar (cada vez mais pequena aos nossos olhos, devido à distância que ia aumentando; grande no nosso coração pelas recordações que nos deu). O balanço do barco, o canto do mar e o seu aconchego de sempre e para sempre (o meu colo) adormeceram-no. Cheguei a Olhão com ele ao colo a dormir. O resto, já se sabe: a viagem de regresso, o regresso à realidade.

O ano passado foi assim.

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