sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Às vezes baralho-me com os meus próprios ideais

A minha família não é muito funcional. Ou não o foi, totalmente, em tempos. Estive, e estou, em desacordo com alguns aspetos relacionados com a educação que me foi dada. Achava, e acho, que a minha mãe fazia algumas coisas erradas que, certamente, justificam algumas das dores do meu crescimento. Achava, e acho, que era uma pessoa rígida e, por vezes, inflexível; austera numas coisas e, surpreendentemente, compreensiva noutras; ela defendia a máxima "Quero, posso e mando", no entanto, acredito que se tivesse ficado grávida aos 18 anos, ela aceitaria. Achava, e acho, que ela dizia as coisas erradas acerca de pessoas que me eram certas, tais como o meu pai. Achava, e acho, que ela não teve a preocupação em proteger-me de determinadas coisas. Achava, e acho, que não conseguiu proporcionar-me o equilíbrio desejado - até aos 3/4 anos sufocou-me, depois, exigiu de mim a autonomia de que me privara antes. Dizia-mo e eu sentia-me, muitas vezes, inferiorizada por isso. Senti-me sozinha algumas vezes e sofri com isso.
Apesar de tudo, tenho a certeza de que alguma coisa muito boa a minha mãe conseguiu fazer, porque conseguiu que eu, ela e a minha irmã formássemos uma irmandade forte e indestrutível . Uma chora do lado de lá e as outras arranjam maneira de lhe secar as lágrimas e de lhe devolver um pouco da esperança perdida; uma sofre uma desilusão e as outras têm a pretensão de que também sentem essa desilusão com a mesma intensidade. Este sentimento arrebatador e arrogante de que seremos sempre necessárias umas às outras e de que seremos sempre suficientes para nos acudirmos e resolvermos os problemas umas das outras supera, incomparavelmente, tudo o resto. E é por isto que eu, às vezes, me baralho com os meus próprios ideais. Será que eu e a minha irmã, com todas as nossas ideias, seremos capazes de transmitir isto aos nossos filhos? É que isto é, inegavelmente, maravilhoso.
Pode ter existido uma ou outra situação em que não foi exatamente assim, mas na maioria das vezes é. Acho que isto é instinto de sobrevivência: assim, somos mais fortes para enfrentar as adversidades da vida; assim somos mais capazes.
Obrigada por isto, mãe.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixa aqui o teu comentário ou sugestão.