segunda-feira, 27 de julho de 2015

O pombo que vivia na nossa varanda

O Índio Pirata vivia num terceiro andar de um prédio sem elevador com os seus pais, o pai Pirata e a mãe Índia. A sua casa tinha duas varandas, uma virada a Este e outra a Oeste. A varanda virada a Este dava para as traseiras do prédio onde viviam e para os quintais dos vizinhos do outro prédio. Era habitual ver os pombos, que cirandavam pelos telhados, pousarem no parapeito desta varanda. Do lado Oeste era normal ouvirem-se os passarinhos cantar logo pela manhã e as árvores a abanar quando estava muito vento.
Um belo dia, o pai Pirata achou que seria interessante colocar na varanda Este uma cadeira de palha para se sentar a beber uma "água fresquinha" ao final do dia, quando chegasse do trabalho. Num outro dia, não tão belo, em que a mãe Índia não aguentava tanta coisa desarrumada, o pai Pirata, cansado de a ouvir refilar, decidiu arrumar a lenha debaixo da dita cadeira. Na verdade, o pai Pirata montou o lar perfeito para um dos pombos que rondavam aquela zona. O pombo começou por pousar no parapeito da varanda mais vezes do que o habitual. Depois, foi ocupando a cadeira. Por fim, foi ficando para dormir adotando a varanda como o seu verdadeiro lar. Ninguém tinha direito a ir àquela varanda porque o Sr. Pombo julgava-se senhor e dono da mesma, parecia até que tinha celebrado um contrato de aluguer em que uma das cláusulas era não ser incomodado.
O Índio Pirata delirava com o pombo que vivia na sua varanda, apesar de se encolher quando a ave levantava voo. Era quase como se fosse o seu animal de estimação, no entanto, visto através do vidro da janela. Quando chegava a casa perguntava pelo pombo. Em dias em que as birras se apoderavam do Índio Pirata à hora de jantar, os pais falavam-lhe do pombo e levavam-no à procura do animal através do vidro da janela da varanda, afastando-o assim das suas crises existenciais (birras). E resultava. Na rua, quando via pombos, gritava e corria atrás deles, ainda que se encolhesse quando os animas voavam muito perto dele. O pombo, não chateando muito, não deixava a família Índio-Pirata utilizar a varanda. Esta estava sempre suja.
Foi então, que os pais decidiram que queriam a sua varanda de volta. Acharam também que o pombo, ainda pequenino, devia estar junto dos seus pais, era muito novo para viver sozinho. Por isso, resolveram retirar da varanda todos os objetos que o tinham cativado a viver ali, nomeadamente a lenha e a cadeira. O pai Pirata retirou o material da varanda e esperou que o pombo desaparecesse, o Índio Pirata continuou a perguntar pelo pombo e a mãe Índia sabia que aquela "ordem de despejo subtil", apesar de ser justa e necessária, iria demorar alguns dias a concretizar-se. E assim foi, o pombo foi aparecendo, meio confuso como se lhe tivessem assaltado a casa, questionando se se teria enganado na varanda. No entanto, como via o Índio Pirata sabia que estava no sítio certo e insistia em aparecer e ficar na sua varanda. Os pais do pombo estavam felizes porque, no meio destas dúvidas, o pombo ia e vinha da varanda Este à casa dos seus pais com regularidade.
Os pais do Índio Pirata explicaram-lhe os motivos pelos quais o pombo tinha deixado de viver na sua varanda e disseram-lhe que, apesar disso, ele e o pombo podiam continuar a ser amigos, desde que quisessem. E assim foi. O pombo passou a viver no conforto de uma casa cuidada pelos seus pais, rodeado de mimos e atenção. O Índio Pirata e os pais puderam, finalmente, começar a utilizar a sua varanda do lado Este. O pombo todos os dias vinha espreitar o menino por entre o vidro da janela da varanda. Os dois riam-se, cúmplices, como se se estivessem a cumprimentar. Continuaram a ser amigos por muitos e muitos anos. Quando o Índio Pirata, já adulto, comprou a sua casa, o pombo foi convidado a conhecê-la e não eram poucas as vezes que o visitava. Pousava no parapeito da sua varanda, também ela localizada no lado Este, e ali ficava à espera que o Índio Pirata lhe sorrisse. Ele sorria-lhe, o pombo retribuía e levantava voo.

Créditos de imagem: Wishªcolor

P.S. Vou já avisando que o animal que está no braço do Pirata é um Pombo. Está é mascarado de Papagaio Pirata Maluco.

Filho, existiu mesmo um pombo que viveu, durante uns tempos, na nossa varanda e tu gargalhavas quando o vias. Desculpa a distorção da realidade, mas não sei se ele era pequenino, nem sei se voltou a viver com os pais. Achámos que a justificação dada com estes argumentos era mais fácil de entender. Precisávamos mesmo da nossa varanda e um pombo não é animal que possamos ter em casa. A mensagem que te quero transmitir é a do valor da amizade. Se for verdadeira manter-se-á para sempre. Preserva os amigos.
Pessoalmente, não gosto de pássaros em casa, acho que eles nasceram para ter o céu como limite, para voarem, para serem livres. Quanto a ti, desejamos que ganhes asas e alcances os teus próprios limites. E que o céu não te limite.
Parabéns pelo teu 22º mês de vida e um beijo da tua mãe.

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